
Ana Teresa Santos
Paz podre, paz industrializada
Que mundo é este?
“Querida filha, vives num mundo onde a qualquer momento uma bomba rebenta, ou um “bando” de terroristas pode entrar no teu sonho, bombardear tudo ao teu redor e acabar com a tua felicidade, em segundos. Sangue, lágrimas, corações que não sopram, não vivem, não sentem mais” – porque não me avisaram os meus pais disto, enquanto crescia?
Porque é que o mundo implora por paz, se lhe respondemos com guerra?
Porque é que num dia “Somos todos Charlie”, passado uns tempos “Somos todos Paris” e ninguém se lembra que temos apenas que ser todos humanos?
Bombas não se resolvem com armas e tiroteios. Mortes e violência não se quebram com ainda mais violência, ódios e rancores.
Somos todos feitos da mesma massa- A que sente.
Um muçulmano não é um bombista, nem um católico um santo. A maldade não vem da religião, vem do ser.
Não quero deixar de sofrer, mas quero sofrer tanto por Paris como por Beirute. Não quero sofrer apenas por mim e “pelos meus” que por lá ficaram. Quero sofrer pela perda de seres, não só pelo Sr. Manuel que por lá passára ou pela Mariana que não chegou “por milagre” a entrar.
Se rezarmos, rezemos por todos. Pela dor, não pela proximidade.
A guerra é a mesma, e só se solucionará quando entendermos que a minha dor é a dor dos refugiados que FUGIRAM disto é a mesma dor que a população de Beirute que viveu algo tão aterrorizador e similar. O medo não é um sentimento exclusivo Europeu, e neste momento qualquer pessoa que vive, tem medo de a qualquer momento poder deixar de viver.
O mundo é de todos, enquanto o vivermos a circundar o nosso umbigo, a nossa resposta será sempre a mesma: Guerra.
A conversinha do “Deus, Pátria e Família” é um máximo mas já não convence ninguém, nem detém porra nenhuma. Vamos inverter o jogo, experimentar viver por todos e depois então por nós.
Juntos somos tantos nesta luta pela paz.
Deixemos de ser todos “qualquer coisa” para passarmos, finalmente, a ser todos “alguma coisa” – Humanidade.